Review: Assistir Homens (WATCHMEN)

  OI DE NOVO, GENTE!! Aqui é o Higa, e dessa vez eu vou falar de uma HQ extremamente adorada, amada, cultuada, desejada, elogiada, que você provavelmente já ouviu falar: Watchmen.


  No ano de 1985 (esses maravilhosos anos 80...) a DC Comics comprou os direitos de uma editora chamada Charlton Comics. A editora do Superman, Batman e cia. queria que as personagens adquiridas Questão, Capitão Átomo, Besouro Azul, Sombra da Noite e outros fizessem parte de uma história, e, para isso, chamaram um roteirista inglês: o velho bruxo doidão Alan Moore.


"Pão de bataaataaa..."



  Alan já tinha se destacado com obras como Miracleman e Monstro do Pântano. Ele, junto com o desenhista Dave Gibbons, resolveu que não iria usar esses personagens: criaria novos, com características parecidas. Em 1986, foi lançado Watchmen.



   A HQ se passa em um Estados Unidos alternativo nos anos 80. Vigilantes mascarados existem, há tecnologias como carros elétricos e dirigíveis, Richard Nixon ainda é o presidente do país, os americanos saíram vencedores da Guerra do Vietnã, tudo com a ajuda de um ser especial. 
  Tudo começa quando um dos vigilantes, o Comediante, é  assassinado. Ele era um dos mascarados que atuava sob as ordens do governo após a uma lei proibir a atuação de pessoas desse tipo. Rorschach, outro "watchman", resolve investigar para tentar descobrir o que está por trás dos atentados aos seus antigos companheiros.
  O roteiro é MUITO LOUCOO!! É uma história muito bem escrita, cheia de referências históricas. É extremamente realista, com muita violência e inclusive cenas de nudez (ah, vai, aquelas novelas das 11 da Globo são piores). Não é uma história de super-herói, é justamente a destruição desses mitos, a desconstrução dos super-heróis. Eles são humanos, têm problemas, sentimentos, valores duvidosos. Além disso, mostra como seria o mundo se realmente existissem esses justiceiros. 
  Lembra que lá em cima eu disse que essa outra história americana só foi possível graças a um ser especial? Então. Esse ser é o grande Dr. Manhattan. Surgido a partir de um acidente radioativo, esse sujeito consegue se teletransportar, estar em diferentes épocas do tempo ao mesmo tempo, criar e destruir matéria. Ou seja, o cara é um Deus. Com ele os yankees vencem facilmente a guerra contra os comunistas do Vietnã do Norte, alterando drasticamente o equilíbrio do poder mundial (afinal, ele é praticamente uma grande bomba atômica ambulante, dá até dó dos soviéticos). Lembre-se do contexto histórico: era a Guerra Fria.

O grande Dr. Manhattan


  Vamos os personagens (uhuu):
  Rorschach é um cara frio, pessimista, violento, daqueles que resolvem violência com mais violência ainda. Um sociopata com seus próprios valores morais (bem conservadores), chegando a ser quase um fascista.
  Laurie Juspeczyk, a Espectral II: uma heroína moldada pela mãe, que também era uma vigilante (que ganhava dinheiro com isso). Ex-mulher do Dr. Manhattan, só que não dá pra se relacionar com um cara desses (mesma coisa que transar com a Little Boy). O único vínculo do azulão com a humanidade. Quando o casamento acaba, Manhattan se exila em Marte e nós nos ferramos.
  Dr. Manhattan: já falei dele. Ele tem uma visão de mundo bem interessante, pois pra ele tudo é insignificante. Perdeu a humanidade.
  Edward Blake, o Comediante: trabalhou pros EUA derrubando governos marxistas por aí. Um sujeito durão, irônico, que reconhece e podridão do mundo e recorre ao humor. Moralismo não é com esse cara.
  Daniel Dreiberg, o Coruja II: personagem meio tímido, retraído. Herdou o posto de coruja de Hollis Mason. Possui sua nave para ajudar no combate ao crime, Archimedes. Foi parceiro de Rorschach.
  Adrian Veidt, o Ozymandias: um bilionário brilhante, inteligentíssimo, revelou sua identidade ao mundo quando se aposentou. Possui incríveis habilidades atléticas, conseguindo até pegar balas (não só desvia como também as pega. Chupa, Neo!). Tem um lince.
Ozymandias
Coruja II
Silk Spectre II
Rorschach
Comediante

  A HQ retrata muito bem como seria nosso mundo com um "deus" entre nós. Apesar do poder bélico americano, os soviéticos não gostariam nada disso, podendo atacar a qualquer momento. Aliás, uma das referência mais legais é o "Relógio do juízo final'', cujos ponteiros se afastam ou aproximam da meia-noite, que simboliza o holocausto nuclear (mas não confiem nesse relógio. Na crise dos mísseis cubanos de 62, quando o mundo esteve mais próximo do fim, os ponteiros nem se mexeram).
  Mas um dos trunfos da obra é a metalinguagem. Mas o que é metalinguagem?? É quando a linguagem se desdobra sobre ela mesma. Um filme sobre um homem fazendo um filme, um poema falando sobre poesia, etc. A HQ contém textos no final de cada capítulo. Por exemplo, o livro de Hollis Mason, citado na história, pode ser conferido por você. Há também um texto sensacional que fala dos impactos geopolíticos da existência do Dr. Manhattan. Ou seja, VOCÊ NÃO PODE LER ESSE QUADRINHO PULANDO ESSES TEXTOS. Você estará sendo idiota. Esses textos, além de complementar o enredo, acrescentam muito à história. E no meio dessa existe uma outra história em quadrinhos, Contos do Cargueiro Negro, que corre em paralelo com os acontecimentos da narrativa. Ou seja, é muito louco.
  A HQ também tem um pouco de filosofia, como por exemplo o diálogo de Spectral e Dr. Manhattan em Marte. Contém um pouco de física também, ao explicar sobre táquions, crateras marcianas e etc. Também está repleta de referências culturais, como letras de música (All Along the Watchtower, véi).
  Também é interessante notar a relação dos Minutemen (os vigilantes antigos) e os novos. Nos mostra como os heróis de uma "Era de Ouro" acabam influenciando outras gerações de personagens. Aliás, a história dos Minutemen é outra maravilha à parte (com direito a tentativa de estupro).
  MAS existe o final. E no final você vai refletir. O grande vilão (vilão?) faz uma coisa terrível, mas que você acaba concordando, mesmo que tristemente. Afinal, os fins realmente justificam os meios? A humanidade é "salva", as superpotências viram amiguinhas. Mas a que custo? Melhor você ler se não entendeu o que eu escrevi neste parágrafo.
  Os desenhos de Dave Gibbons são excelentes, extremamente competentes e detalhistas. Têm até uma aparência meio antiga (mas são bonitos).
  Agora vem o cinema. Alan Moore é um baita azarão nas telonas. Monstro do Pântano virou um filme trash, Do Inferno e A Liga Extraordinária deixaram a desejar e V de Vingança ficou meio a meio. E Watchmen virou filme em 2009, dirigido por Zack Snyder. 
  Eu acho o filme inferior à HQ, mas mesmo assim muito bom. Pra mim, ele não conseguiu captar a essência da HQ (desculpa clássica, hehe). O final também ficou diferente, surpreendendo positivamente e negativamente a alguns. Mas aquela cena de abertura ao som de Bob Dylan é uma coisa sensacional, isso ninguém pode negar. Se for pra ver o filme, recomendo que veja a versão do diretor, de 3 horas e meia. Aí sim você vai ter um filmaço. 

"Do visionário diretor de 300"

  Watchmen também ganhou um prequel, Antes de Watchmen, uma série de histórias contando coisas que se passaram antes de Watchmen original. É uma máquina caça-níqueis da DC. Imagine o Vaticano vendendo continuações da Bíblia. É mais ou menos assim. Ganhar mais dinheiro em cima de uma obra que já teve seu começo, meio e fim. Fica na mediocridade (se bem que o Before Watchmen: Dr. Manhattan é fantástico).
  Enfim, minha nota não poderia ser outra: 10/10. Aqui em São Paulo, você deverá ter paciência pra encontrar essa obra, pois ela está...esgotada!! Nas grandes livrarias (Cultura, Saraiva) você não encontra mais. Procure em algum sebo pelas edições da Editora Abril (eu vi um no Messias). Se a Panini for para algum evento, procure por lá, o encadernado em capa dura deles sai por uns 90 reais. Na Comix você acha mais caro, por volta de 110. Mas vale muito a pena.
  LEIAAA!! Você não sabe o que está perdendo. É a HQ mais importante de todos os tempos, uma das mais vendidas, considerada a melhor de sempre. Entrou até na lista da revista Time como uma das maiores obras da literatura inglesa. Ou seja, você deve ler isso. LEIA.
  






  



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