Oscar 2016 - Análises, apostas e vencedores

No último dia 28 realizou-se em L.A. a cerimônia do Oscar. Em torno de polêmica racial e expectativa em torno dos prêmios, especialmente pro Leonardo DiCaprio, ocorreu sem tantas surpresas este ano. Pessoalmente, achei o nível dos indicados muito superiores aos do ano passado.
Aqui vai minha análise dos filmes que figuraram na premiação, assim como minhas apostas e quem realmente levou.

MELHOR FILME

Indicados: A Grande Aposta; O Regresso; Ponte dos Espiões; Perdido em Marte, Mad Max: Estrada da Fúria; Brooklyn; O Quarto de Jack; Spotlight.



Análise: Categoria para ser disputada entre 2 ou 3 filmes. Spotlight é um filmaço que se apoia em seu ótimo elenco e no alicerce da história real, chocante, urgente e bem conduzida em seu roteiro. Venceu várias premiações e foi o que acabou levando 
O Regresso também despontou como um dos favoritos, por alguns motivos: Iñarritu, cinematografia e DiCaprio implorando pra levar uma estatueta. Na minha opinião, o longa perde muito por conta de sua megalomania e deixa muito a desejar em questões de roteiro, fato compensado pela direção, fotografia estupenda e a atuação sofrida e martirizada de Leonardo DiCaprio.



A Grande Aposta correu por fora e tinha algumas chances por conta do tema: a crise financeira e econômica de 2008 (aquela "marolinha"). Boa direção, ótimas atuações e montagem frenética que possuem como mérito o didatismo de um tema tão complicado e com tantos jargões técnicos incompreensíveis para o espectador médio, como eu. Sem contar Led Zeppelin na trilha sonora, o que melhora qualquer filme.



Ponte dos Espiões mereceu sua indicação.O longa entrega um roteiro redondinho e bem escrito, atuações seguras e uma fotografia deslumbrante. E Spielberg.
Mad Max é o meu favorito, não tem jeito. A direção é fabulosa, fotografia, montagem e aspectos técnicos impecáveis, Charlize Teron e Tom Hardy detonando, mise-en-scène de encher os olhos. Tudo oferencendo a melhor experiência cinematográfica de 2015. Porém, sejamos realistas: a Academia não concederia um milagre desses.



Não vi Brooklyn nem O Quarto de Jack, então não posso falar nada.
Concluo minha análise com uma pergunta: o que Perdido em Marte tá fazendo aí?

Perdido no Oscar


Quem merecia ser indicado: Tangerine, ótimo como filme, importante como tema e inovador como forma (gravado em iPhone); Beasts of No Nationgrande acerto da Netflix cuja total ausência na festa demonstra o claro conservadorismo dos votantes da Academia; Divertida Mente, que devia estar no top 15 de cada membro, mas não foi votado por puro preconceito.

O nome desse filme ainda vai aparecer mais vezes neste post


Quem eu queria que levasse: Mad Max

Quem levou: Spotlight! Justo, um manual de bom jornalismo, um filme relevante e impecável. Clássico moderno do gênero.

MELHOR ATOR

Indicados: Eddie Redmayne; Bryan Cranston, Matt Damon, Michael Fassbender e Leonardo DiCaprio.

Vivemos para testemunhar esse momento


Análise: Essa nem teve graça. A categoria era fraca. Abriu espaço para o fim de uma era de zoeira.

Quem merecia ser indicado: Abraham Attah e Jacob Tremblay, duas crianças pra dar dor de cabeça pros marmanjos; Michael B. Jordan fez um Adonis Creed muito legal em Creed; Johnny Depp finalmente atuou sem chapéu, maquiagem pesada e extravagância em Aliança do CrimeSamuel L. Jackson, encarnando o caçador de recompensas Marquis Warren na sanguinolência e explosão de nervos de Os Oito Odiados.

Quem eu queria que levasse: Leonardo DiCaprio

Quem levou: Finalmente, Leonardo DiCaprio. Pra quem será passado o bastão da zoeira agora? Johnny Depp?




MELHOR ATRIZ

Indicadas: Saoirse Ronan; Brie Larson; Jennifer Lawrence; Charlotte Rampling; Cate Blanchett.



Análise: Categoria também muito fácil de apostar. Brie Larson era a grande favorita. Não sei o que a Jennifer Lawrence fazia ali.

Quem merecia ser indicada: A atuação de Charlize Teron em Mad Max fica marcada na cabeça de quem assiste, ao contrário de muitas das indicadas.

Quem eu queria que levasse: Brie Larson

Quem levou: Brie Larson, sem muita surpresa.

MELHOR DIRETOR

Indicados: Lenny Abrahamson; Alejandro González Iñarritu; George Miller, Adam McKay; Thomas McCarthy.

Análise: A Academia gosta do Iñarritu, e eu também. Gostei muito de Birdman, Babel  e 21 gramas, adoro Amores brutos. E ele era o favorito pra essa estatueta. Afinal, dirigir um filme num cenário daqueles e mandando o diretor de fotografia se virar com luz natural não é um esforço a ser menosprezado.



George Miller mostrou que tá mais vivo que muito garotão com uma câmera na mão que existe na indústria. Dirige mais um capítulo da franquia que o consagrou conduzindo uma produção complicada e um mise-en-scène de tirar o fôlego, construindo uma das melhores experiências cinematográficas de 2015 em um filme que vai ficar marcado como uma das melhores ficções científicas da década. É incrível como as cenas de ação são filmadas por ângulos curiosos e montadas com maestria, com enquadramentos e movimentos de câmera inspirados. Há inclusive um frame rate abaixo dos tradicionais 24 para acelerar algumas cenas. Fotografia bela, design de produção estupendo, um roteiro simples, porém, com uma sutileza charmosa. Um filme puramente imagético que retorna o cinema à sua essência: o espetáculo. George Miller não leva, mas deixa seu nome gravado no cinema de ação do século XXI.

Esse tiozinho manja mais de ação que muito Vingadores e Velozes e Furiosos por aí


Quanto ao outros, nenhuma chance.

Quem merecia ser indicado: Ridley Scott, grande esnobado nessa categoria, merecia uma indicação por Perdido em Marte, que teve uma direção muito boa de um mestre do cinema; Steven Spielberg fez seu melhor filme em muitos anos; Todd Haynes comandou uma bela cinematografia em Carol; Dennis Villeneuve fez um trabalho sutil e preciso em Sicario; Quentin Tarantino provou que ainda tem lenha pra queimar em Os Oito Odiados; Creed demonstrou todo o talento de Ryan Coogler; Cary Fugunaka mostra serviço com o injustiçado Beasts of No Nation.

Como assim não fui indicado?


Quem eu queria que levasse: George Miller

Quem levou: Iñarritu. Oscar merecido para um diretor que faz história. E o terceiro seguido para um mexicano! Omelete e Donald Trump choram.

Choram as rosas


MELHOR ATOR COADJUVANTE

Indicados: Mark Ruffalo; Mark Rylance; Tom Hardy; Christian Bale e Sylvester Stallone.

Análise: Categoria muito boa. Mark Ruffalo não levaria novamente, mas valeu a tentativa.
Tom Hardy encarna o capeta em pessoa em O Regresso . Christian Bale se transforma novamente, desta vez em um economista genial e meio autista que gosta de ouvir Metallica em volume bem alto no trabalho. Ator muito versátil e talentoso.
Mark Rylance é respeitadíssimo nos palcos e era um dos favoritos dos críticos. Seu espião soviético Rudolf Abel é contido, discreto e elegante.



Stallone ganhou Globo de Ouro e era quase certeza (era). De vez em quando ele consegue nos fazer lembrar de que pode atuar bem, muito bem. Seria emocionante vê-lo vencer o Oscar pelo personagem que o consagrou. Em Creed, seu Rocky Balboa relembra um passado agridoce e apenas espera a vida seguir seu rumo natural, pelo menos até o filho de seu grande amigo e rival aparecer e mudar tudo. Nunca pensei que ele pudesse ter uma atuação dramática tão marcante. Contido, seguro e ao mesmo tempo frágil. Merecia o cinturão.



Quem merecia ser indicado: Idris Elba, cuja ausência por sua fantástica atuação em Beasts of No Nation é indefensável; Benicio del Toro, que chama a atenção com seu personagem misterioso e de moral duvidosa em Sicario.

Quem eu queria que levasse: Sylvester Stallone

Quem levou: Mark Rylance, estragando o meu bolão.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Indicadas: Rooney Mara; Jennifer Jason Leigh, Kate Winslet, Alicia Vikander e Rachel McAdams

O papel dela não era exatamente coadjuvante...


Análise: Categoria também muito boa. Destaque para Jennifer Jason Leigh que surpreende em Os Oito Odiados e possui o papel mais difícil ali. Alicia Vikander desponta em Hollywood como uma atriz muito boa e promissora. Aliás, penso que ela deveria ter sido indicada por Ex-Machina, mas tá valendo.

Quem merecia ser indicada: Mya Taylor por seu papel em Tangerine

Quem eu queria que levasse: Jennifer Jason Leigh

Quem levou: Alicia Vikander, sem muitas surpresas. Realmente, a que mais valia a pena em A garota dinamarquesa. Um tema importante demais para um filme tão covarde.


MELHOR ANIMAÇÃO 

Indicados: Divertida Mente; Shaun o Carneiro; O Menino e o Mundo; Anomalisa; As Memórias de Marnie



Análise: Belíssimas indicações. Apesar do Oscar já ser certeza pro Divertida Mente, olha o nível do negócio: além da surpresa maravilhosa com O Menino e o Mundo, do Alê Abreu, tem Pixar, Ghibli, Aardman e Kaufman. 

Quem merecia ser indicado: Os concorrentes estão de bom tamanho.

Quem eu queria que levasse: O Menino e o Mundo

Quem levou: Divertida Mente. Golias levou dessa vez, não tinha jeito.

Ainda bem que esses aí nem foram indicados...



MELHOR CANÇÃO ORIGINAL

Indicados: Manta Ray; Earned It; Writing's on the Wall; Simple Song #3 e Til It Happens to You



Análise: Categoria fraquíssima. Nenhuma me agradou. 

Quem merecia ser indicado: See You Again fez um baita sucesso. Cadê?

Quem eu queria que levasse: Pode ser a Til It Happens to You

Quem levou: Writing's on the Wall, inexplicavelmente. Ainda ferrou com o meu bolão de vez.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL 

Indicados: Ponte dos Espiões; Spotlight; Divertida Mente; Straight Outta Compton; Ex-Machina



Análise: Escolhas muito boas. Spotlight era o grande favorito. Porém, os outros indicados era muito bons (pareço a Glória Pires falando?).
Divertida Mente deu uma aula de psicologia e criatividade, Ponte dos Espiões contém um excelente trabalho de conversação e caracterização de personagens, Ex-Machina é uma digna ficção científica no sentido mais puro da expressão, Straight Outta Compton é uma ode ao rap e o que ele representa.

Quem merecia ser indicado: Os Oito Odiados, apesar de não ser o melhor do Tarantino (longe disso), ainda mostra que o cara é um mestre do roteiro.

Quem eu queria que levasse: Divertida Mente

Quem levou: Spotlight, merecidamente. Pouco filmes tratariam uma temática tão espinhosa e importante sem melodramas vazios e pretenciosos, com a mesma sutileza e classe do longa premiado.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Indicados: Perdido em Marte; Brooklyn; Carol; A Grande Aposta e O Quarto de Jack



Análise: A Grande Aposta se aproveita de seu didatismo dinâmico e inusitado para dar um tom ácido à critica que expõe. Era certeza, não tinha jeito.

Quem merecia ser indicado: Aaron Sorkin levou o Golden Globe e era um dos favoritos até pra levar a estatueta pelo roteiro de Steve Jobs, mas inexplicavelmente ficou de fora; Beasts of No Nation foi injustiçado novamente (tá ficando chato).

Quem eu queria que levasse: A Grande Aposta

Quem levou: A Grande Aposta 


MELHOR TRILHA SONORA

Indicados: Carol; Ponte dos Espiões; Os Oito Odiados; Sicario; Star Wars



Análise: Escolhas muito boas. John Williams e Ennio Morricone na mesma edição é de encher os olhos e ouvidos.

Quem merecia ser indicado: Nada a acrescentar

Quem eu queria que levasse: Ennio Morricone pela bela trilha de Os Oito Odiados. 

Quem levou: Ennio Morricone. A justiça tarda mas não falha.

Abaixo, uma amostra de um tema maravilhoso de um dos maiores westerns que o cinema já ofereceu: Três Homens em Conflito. Por Ennio Morricone, The ectasy of gold.



Nas categorias técnicas, apostei em Mad Max em quase todas e me dei bem. Simplesmente lacrou a premiação e levou 6 carecas pra casa. Surpresa para a vitória de Ex-Machina em efeitos visuais, derrotando gigantes de orçamento infinitamente maior.
Em fotografia, o favoritismo se confirmou e Emanuel Lubezki levou a terceira seguida. O filho de Saul venceu em Melhor Filme Estrangeiro, sem surpresas, assim como a vitória de Amy em melhor documentário.
Concluo dizendo que foi uma premiação justa, quem sabe a mais justa dos últimos anos. Poucas surpresas, muita polêmica e o fim de um meme. Esse foi o Oscar 2016. Até!










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