Filmes de 2015 - Parte final

Parece que minha escrita estranha vai sempre exigir uma trilogia de postagens. Agora, falarei mais do restante dos filmes que vi no segundo semestre. A maioria foi bom, dois ficaram abaixo das minhas expectativas e outro foi um exemplar da inutilidade. Já aviso que é meio grande.


Shaun: O Carneiro

Mais uma ótima animação da Aardman Studios. O filme mantém a mesma pegada do desenho, parecendo um episódio mais longo. Stop motion com massinha é tudo de bom!
Com 0 de diálogo, momentos muito engraçados e tiradas geniais, a animação me conquistou pelo seu ritmo, humor e uma tocante busca pelo elemento humano que os dá carinho, amor e sentido de existência (como em Toy Story 3). Nota: 9 de 10.



Perdido em Marte
Após não agradar com Prometheus, Conselheiro do Crime e Exodus,  Ridley Scott dá a volta por cima e dirige uma de suas melhores obras desde Gladiador, e quem sabe, Thelma e Louise.  
Responsável pelas obras primas Alien e Blade Runner, Scott com certeza merece ser lembrado ao menos com uma indicação ao Oscar. O filme possui excelentes efeitos visuais, e, se não encanta pelo roteiro e por estranhezas em relação ao realismo emocional e político da situação, entrega um ótimo elenco, tiradas bem humoradas e peripécias científicas curiosas e verossímeis. Matt Damon atua muito bem, fazendo-nos torcer pelo seu personagem, que conduz a narrativa com credibilidade e tranquilidade.


Além disso, a fotografia constrói belas imagens e cria uma linda paisagem marciana. Quem gosta de ficção científica e exploração espacial vai gostar desse filme. Perdido em Marte é um filme divertido, uma ode à ciência e ao progresso científico que agrada a que assiste. Nota: 7,5 de 10.


Beasts of no Nation

Primeiro filme original Netflix, dirigido por Cary Fukunaga e com Idris Elba no elenco. Não tinha como eu não ficar empolgado com essa notícia. A plataforma de streaming digital chega chutando portas, provando que é capaz de produzir conteúdo original em forma de longa metragem com um selo de qualidade, enquanto os grandes estúdios e as redes de cinema multiplex engolem seco.


Aqui temos um país africano qualquer, no qual milícias cujos nomes são siglas quaisquer travam uma intensa guerra civil. Um retrato não esteriotipado e realista de um continente que sangra: conflitos por poder, dor e sofrimento comandados por trás dos panos por interesses obscuros . No meio de tudo há o ser humano, as famílias, as crianças que buscam sobreviver.


O que chama a atenção nesse filme não é só o roteiro, que entrega uma espécie de "road movie de guerra" durante boa parte da projeção. A fotografia é ótima, boa trilha sonora, direção cuidadosa que soube conduzir uma profunda narrativa, que pode ser interpretada sob várias camadas.
As atuações são hipnotizantes: Idris Elba é o Comandante cínico, odioso. Seu discurso ideológico é fraco, vazio e cheio de ódio, capaz de manipular crianças a cometer atos horrendos. Ele funciona como a personificação da guerra gratuita e sem honra na vida de pessoas inocentes: planta a semente do mal, da culpa e da dor que nunca mais irá sair.


Abraham Attah surpreende com uma das atuações infantis mais viscerais que vi nos últimos anos. Sua infância simples e doce na qual utiliza sua criatividade para se divertir enquanto sobrevive com a família (a sequência da "TV da imaginação" é encantadora) logo se transforma radicalmente em ódio, perda de inocência e amadurecimento forçado.


A Netflix prova que tem calibre lançando logo de cara um dos melhores filmes de 2015. Resta saber como a Academia vai tratá-lo, pois merece pelo menos algumas indicações ao Oscar. Nota: 9 de 10.



Ponte dos Espiões
Steven Spielberg é um mestre do blockbuster, e, acima de tudo, do cinema de gênero.  Seja no thriller com Tubarão, no épico de guerra com O Resgate do Soldado Ryan, no drama histórico de A Lista de Schindler, nas aventuras épicas do Indiana Jones ou nas ficções científicas de Jurassic Park, E.T. e Contato Imediatos de Terceiro Grau. O certo é que boa parcela dos espectadores de todas as idades já foram impactadas ou, pelo menos, já viram um filme desse grande nome do cinema.

E é claro que ia sair coisa boa da parceria entre Spielberg e Tom Hanks. Este último entrega mais uma excelente atuação, na qual consegue passar, ao mesmo tempo, tensão e confiança, fazendo-nos torcer pelo seu personagem com uma fluidez e imponência invejáveis. Mark Rylance também surpreende, merece indicação pro Oscar.

O roteiro dos irmãos Coen (sim, eles) é primoroso. Um excelente trabalho de conversação, diálogos incríveis que conduzem a história de forma bem trabalhada ao expor com inteligência e precisão as motivações dos personagens e suas decisões ao longo da narrativa. Um roteiro no qual a palavra se sobressai perante a ação, conseguindo criar tensão e afinidade com a trama. 


A direção de Spielberg está em excelente forma. Dirige um excelente roteiro, atuações muito boas, uma cenografia de encher os olhos quanto à beleza e ambientação de época e uma bela decupagem de planos e contra-planos muito bem trabalhada. A trilha sonora é pontual e a fotografia é soberba.


Pra mim, a única coisa que prejudicou foi a presença de dois clímax ao final da projeção, o que eu acho ser mais um vício melodramático do diretor. Somente a presença do primeiro, espetacular, já estaria de bom tamanho, e eu resolveria a subtrama familiar de outro modo. Mas nada que prejudique esse filmaço que marca o retorno de um dos meus cineastas favoritos à boa forma. Nota: 9,5 de 10.


007 contra Spectre

Uma pequena decepção. Após uma boa safra de filmes de espionagem durante o ano, acabar com um exemplar fraco da franquia mais famosa e icônica do gênero deixou um gosto amargo na boca. Sem levar em conta que o longa sucede o excepcional Skyfall. 
O filme não é totalmente ruim. Possui muitas cenas boas, como o eletrizante início. A direção de Sam Mendes (Beleza Americana) também não decepciona no que tange à montagem: bons usos de planos sequências, cenas de ação bem construídas e ângulos interessantes. O que prejudica são o roteiro e os personagens.


O enredo é fraco. A decisão de se criar uma organização vilanesca por trás de conspirações mundiais e do próprio MI6, amarrando os vilões dos filmes anteriores soa desnecessária, pouco criativa e não acrescenta nada de novo. Some isso a um pouco inspirado e mal trabalhado Chistoph Waltz (uma pena) e a uma discussão "devemos ou não aposentar a agência de espionagem tradicional que a gente acha obsoleta em prol de tecnologia e métodos modernos". Temos um plot parecido com o recente Missão Impossível: Nação Secreta, sendo esse último muito mais inteligente e bem cuidado.


A bond girl de Léa Seydoux é uma personagem que não empolga, seja como parceira, seja como mocinha em perigo, parte da trama principal ou interesse amoroso. Tenta ser forte e sensível , mas não é nenhum dos dois. A que poderia ser interessante, a Mônica Bellucci, faz uma aparição relâmpago.


O filme também contém o pior James Bond de Daniel Craig. Pouco desenvolvido, mal explorado, comum. Parece que tentaram tanto homenagear elementos antigos da série que simplesmente transformaram seu protagonista em um agente genérico, sem identidade. Em Casino Royale, com a pressão dos filmes de Bourne, o personagem foi reinventado sob um viés frio e amargurado, sem perder o vigor e o sex appeal. Em Skyfall sua personalidade foi praticamente consolidada em uma hipnotizante, complexa e total imersão em seu passado e seus erros, em uma épica narrativa de queda e renascimento. Sua identidade se perde totalmente em Spectre. 


Porém, o filme ainda diverte, se levarmos em conta a satisfação de se ver um 007 nos cinemas. A trilha sonora é muito boa. Entretanto, fica aqui um descontentamento com a Writing's on the Wall de Sam Smith, que não gostei nem um pouco. Mais um motivo para ficar à sombra do antecessor, com a maravilhosa Skyfall de Adele.
Conclusão: legalzinho, mas muito, muito pouco para um James Bond. Tomara que melhorem no próximo. E que venha Idris Elba! Nota: 5,5 de 10.


Jogos Vorazes: A Esperança-Parte Final

Jogos Vorazes é uma franquia muito interessante. Nunca li os livros, mas gostei muito dos filmes. Eles conseguiram equilibrar uma ótima protagonista com um romance adolescente, futuro distópico bem construído, forte teor político, boa direção, cenas de ação eletrizantes, tudo mantendo uma veia comercial capaz de levar milhões de adolescentes e adultos ao cinema. Entretanto, o último da saga perde um pouco a mão e não empolga tanto, entregando um final satisfatório, mas nada além disso.


Alguns personagens foram simplesmente jogados no lixo, como a interpretada por Jena Malone e o Gale. O triângulo amoroso Peeta-Katniss-Gale torna-se aqui chato, besta e inútil. A presidente Coin não convence, apesar de sua impactante última aparição. 
O plot político já não é tão presente como deveria aqui. Se a parte 1 focou na propaganda como instrumento de guerra, Jogos Vorazes introduziu esse universo corrupto e ditatorial e Em Chamas elevou a mensagem ao máximo beirando a perfeição, aqui esse pano de fundo, apesar de permear toda a guerra, é mostrado com tudo mais pro final, especialmente nas cenas com o Presidente Snow, de uma maneira não tão bem montada.


A cena final é melosa e desnecessária, apesar de ser visualmente bonita e tentar inserir um otimismo no destino dos personagens. Achei que não combinou com a sobriedade do filme e nem o concluiu bem, não sabendo passar a ideia de melancolia com os traumas da guerra ou da esperança contida no titulo, muito menos os dois. Muito estranho.


Apesar das falhas, as cenas de ação são bem feitas, trazendo de volta o espírito dos jogos em meio à guerra contra a Capital, e Jennifer Lawrence ainda interpreta bem sua personagem. Penso que a decisão de adaptar o último livro em dua$ parte$ acabou prejudicando a qualidade do que poderia ser um desfecho melhor, apesar do esforço do diretor Francis Lawrence, que soube conduzir a saga muito bem. Mas fica aqui o reconhecimento a uma boa série, que soube inserir algum conteúdo em um filme voltado para adolescentes e jovens adultos, apesar do final bem aquém do esperado. Nota: 6 de 10.


Victor Frankenstein

Em uma palavra: inútil. Mais uma adaptação de uma história famosa que não empolga. Dessa vez, tentaram inovar ao focar no corcunda Igor. Fui na esperança de encontrar um steampunk legal, mas fui ludibriado. Melhor parar de inovar, então. 


Há pontos positivos sim. A bela direção de arte, figurino e efeitos especiais muito bem feitos. E o filme chega a divertir, pela presença do Daniel Radcliffe e dos exageros e olhares desesperados do ótimo James McAvoy. Há uma discussão sobre a moralidade na criação de vida e até referências a Deus, mas tudo muito vazio. Nem ao menos serviu para explorar o cenário da Inglaterra vitoriana, como muitos outros filmes e até vídeo games fazem muito bem. 


O clímax é decepcionante e se limita a (spoiler, se tiver coragem de ainda querer ver isso) enfiar lanças no monstro. Isso mesmo. O enredo é fraquinho e entrega um romance ruim, diálogos sobre esperma que acham que é alívio cômico, decupagem boa em alguns momentos e estranha em outros (me lembro de um contra-plogée sem sentido e bem evidente), luta contra um macaco zumbi que acaba sendo mais interessante que o monstro principal, Victor "super-herói" socando pessoas em uma perseguição, etc. 


Mesmo com tantas falhas, me diverti com alívio cômicos do filme e os excessos teatrais dos personagens. Uma cena em especial me fez rir muito, mas não sei se foi feita pra isso: Victor tenta endireitar a coluna de Igor o pressionando por trás e este grita "estou ereto!". Hilário. 


No fim do longa, a possível descoberta do protagonista para o insucesso da empreitada científica foi intensa. Intensamente ridícula, me fez sair da sala o mais rápido possível, só assistindo pra ver com os próprios olhos. Foi isso (spoiler): esqueceram de colocar um cérebro na criatura. De causar calafrios e querer arrancar o nosso. 
Mesmo assim, Victor Frankenstein foi melhor que Quarteto Fantástico. Pelo menos a Mary Shelley não pode processar ninguém. Nota: 3 de 10.




Esses foram os filmes vistos em 2015, exceto um em especial: o último. Mas aqui está o link para a crítica do esperado Star Wars. Tiveram muitos filmes que não vi e queria ter visto: Ex-Machina, Sicario, A Travessia, Birdman, O ano mais violento, entre outros. Foi um ano bom para o cinema, e 2016 promete. Quem sabe daqui a um ano eu esteja falando sobre eles também. Até lá o/.















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