Crítica: Star Wars - O Despertar da Força

O momento pelo qual milhões de pessoas esperavam, incluindo eu, chegou dia 17 de dezembro. Finalmente tive a oportunidade de ver um Star Wars no cinema. Apesar das falhas, a experiência é incrível. Quase chorei na abertura.


O Despertar da Força cumpriu muito bem sua função de respeitar os fãs antigos e conquistar uma nova geração, etc e tal, mas muito mais que isso: demonstra a força (em todos os sentidos) de um universo. A força de uma narrativa aventuresca, romântica, épica, pulp, criada por um cara louco em plenos anos 70, que soube empreender e construir uma mitologia em torno de sua marca e vice-versa.


Pra mim, o objetivo era tirar o gosto amargo da trilogia prequel. Conseguiu. O filme é uma aventura de primeira linha, que introduz com perfeição uma nova empreitada no cinema. J. J. Abrams conduz o longa com cuidado, um roteiro um pouco frágil porém seguro, personagens cativantes, nostalgia e uma atmosfera real e crível, longe do festival de Maya, After Effects e fundo verde da trilogia de Anakin.

Tá de Binks comigo? (hahaaa)

Sua direção é segura. Define a veia artística da coisa. Na montagem, mantém as clássicas transições da saga e introduz novas composições para o mise-en-scène. Perceba, por exemplo, o uso de dollys em algumas passagens dentro da Starkiller, acompanhando com um plongée os personagens pelos corredores. O uso de planos abertos para as lindas paisagens e a passagem para planos médios,  muito bem feito. O uso de breves planos sequências. Deslocamento da câmera em seu eixo emquanto a ação do cenário se desenrola na tela. A quebra do velho plano e contra-plano em vários momentos, oferencendo uma fluidez para a narrativa. Só não gostei muito da câmera por cima em um helicóptero no final. Porém, a montagem das cenas de ação é excelente e nos oferece algumas das melhores batalhas aéreas da franquia.

Entretanto, incomoda sim a grande semelhança do roteiro com o Episódio IV misturado a elementos de outros, tanto na estrutura do enredo quanto na composição de alguns personagens. Acredito que a Disney quis pisar em terreno firme e que a série vai evoluir e adquirir uma identidade própria em termos de narrativa daqui pra frente. A quantidade de pontas soltas também é notável. Resta saber se irão conseguir amarrar todas satisfatoriamente ou se algumas ficarão como furos de roteiro



A fotografia é de encher os olhos. Além do uso dos famosos efeitos práticos (que, sinceramente, me encantam mais) temos um ótimo trabalho de iluminação e captura de belas imagens. Perceba a solidão de Rey no deserto de Jakku. A familiaridade do covil de Maz Kanata com Mos Eisley. A composição da luz e das cores na cena mais dramática de todo o filme. A disposição de milhares de stormtroopers durante um discurso inflamado, mostrando todo o poderio da Primeira Ordem e sua herança ditatorial do Império. Talvez minha única decepção com o aspecto visual tenha sido o CGI do Supremo Líder Snoke, que ainda não me passou imponência nem credibilidade.


A trilha sonora de John Williams, infelizmente, não é tão marcante. O tema mais memorável seja talvez o da Rey. Sinto que a música poderia ser melhor aproveitada dramaticamente em alguns momentos, com uma descarada aumentada de volume mesmo.
Um dos pontos altos são os personagens, ainda que alguns tenham sido pior aproveitados. Maz Kanata funciona como um Yoda e é muito interessante, porém some sem mais nem menos. Capitã Phasma é uma peça de metal descartável.


Tirando essas estranhezas, a construção dos personagens principais é fantástica. O primeiro ato é um dos melhores, se não for o melhor, de toda a série. Nele, as tramas de cada personagem, a princípio tão distantes, se encontram de uma maneira natural e bem trabalhada, mostrando com clareza seus motivos de estar ali. Logo após, temos a introdução gradual dos velhos conhecidos de sempre.
Poe Dameron demonstra possuir uma personalidade bondosa e bem humorada. Promete muito nos próximos episódios. Ponto negativo para seu sumiço e repentina aparição mais tarde.


Finn é um personagem incrível. Não é só um sidekick para a grande heroína do longa ou um excelente alívio cômico. É um herói em potencial. Um dos mais complexos da saga. Começa como um stormtrooper redimido (uma perspectiva genial) se cansando e rejeitando a matança imposta por seus líderes. Após a epifania, relaciona-se com Rey e se dá conta de que pode ser um herói. Mas é um covarde. Tem medo de ser herói. Nos momentos de heroísmo, fracassa e é salvo por outros. Uma hora, assim como Rey, é vítima da "jornada clássica": rejeita e foge à luta, para retornar depois. É visto como traidor por seus antigos "companheiros" e não consegue chegar à catarse. Finn é incrivelmente original e bem desenvolvido.


Rey funciona como uma Skywalker (se não for uma). A diferença é que possui um passado ainda misterioso. É forte, corajosa, capaz de feitos extraordinários com a força (se é possível, aí já é outra questão). Uma heroína perfeita e carismática. Simplesmente apaixonante.


Kylo Ren, vítima de críticas que eu considero injustas por conta de sua personalidade, é conflitante, inseguro, instável, explosivo. Sofre um dilema com a tentação do lado da luz e sua relação com o passado. Uma interpretação inversa ao robotismo e maniqueísmo do Darth Vader do Episódio IV, tanto em caracterização e modo de ser, quanto à sua jornada vilanesca interna e transformação. Pra mim, muito bem vindo e com ótimas expectativas para o futuro.



Os velhos personagens estão lá 60% por fan service e 40% pela passagem de bastão a uma nova geração, todavia, cumprem bem seu papel e ainda surpreendem. Leia é líder da Resistência que faz a subtrama familiar com Han Solo funcionar. Este último se revela como o guia mais velho de Rey e Finn, sendo um dos motores da trama, carismático e afiado como sempre. Sua presença é marcante e inesquecível.



Luke também possui um papel interessante. Funciona como o MacGuffin que move toda a trama, além de deixar uma imensa ponta solta para os próximos filmes e por conectar o passado de uma maneira muito legal. Temos a noção de que seus feitos e os de seus companheiros na trilogia original se tornaram mitos que inspiram e encantam a nova geração de personagens. E, claro, mantém a expectativa de sua aparição a níveis estratosféricos

Uma foto aleatória do Mark Hamill
Algo que chamou minha atenção foi o modo como a força ganhou destaque. O "despertar" contido no titulo não foi só um nome impactante que deram. Temos manifestações dessa força espiritual em primeiro plano na história, simbolizando tanto o retorno da marca, quanto o poder de seus novos personagens e renascimento dos mitos que são necessários para derrotar uma nova ameaça à galáxia.


J. J. Abrams e sua equipe cumpriram sua tarefa com louvor. Apesar das falhas quanto à estrutura do enredo (incluindo um deus ex-machina estranhíssimo no final), à quantidade notável de pontas soltas e os poucos furos de roteiro, O Despertar da Força oferece uma experiência incrível a nível artístico, nostálgico, aventuresco e emotivo. Embora com um roteiro quebradiço e falta de ousadia quanto aos pontos estruturais, o carisma, as batalhas, a emoção, o humor e a epicidade se sobressaem, sob uma direção segura e a presença marcante de caras novas e velhas. Star Wars está de volta! Nota: 9 de 10.

















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